Sunday, April 26, 2009

A primeira saída

Não pude sair de Macau para passar o Natal de 2007 com a família e amigos em Portugal. Contava e queria ir. Tornaria as coisas mais fáceis para nós, recém chegados, ir a Portugal 3 meses depois de ter partido, seria bom. Mas não, por ter sido o último a chegar fui o primeiro a ter que ficar, e fiquei, pois que remédio.
Como cá em Macau os dias 20, 24 e 25 de Dezembro são feriados (dia 20 celebra-se e comemora-se o regresso de Macau à Mãe Pátria China e nos dias 24 e 25 festeja-se o Natal) conseguimos juntar estes dias ao fim de semana para sair. Não era tempo suficiente para ir a Portugal e por isso decidimo-nos por um destino mais aqui ao lado e que há muito queria e ansiava conhecer.
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A Tailândia, as ilhas Phi Phi... Aquelas onde foi filmado o filme "The Beach", com o Leonardo Di Caprio.
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As viagens, apesar da época alta, foram baratas e conseguimos lugar para 4 noites num dos inúmeros resortes que pululam pela Ko Phi Phi.

Dia 20 apanhámos o avião do aeroporto de Macau para Bangkok, onde fizemos escala, e chegámos ao fim do dia a Phuket. Esta “localidade” da Tailândia ficou conhecida pelo famoso Tsunami que assolou Sudoeste Asiático em Dezembro 2004 provocando milhares de mortes.

Chegamos tarde e saímos cedo. Não tivemos tempo para ver nada. Pelas 7 da manhã do dia 21, uma sexta feira que o meu patrão generosamente me ofertou, os senhores dos transfers esperavam-nos no Hotel para nos levar ao barco que em mais ou menos uma hora chegaria ao nosso destino final , as Phi Phi.

Confesso que estava com enorme expectativa para conhecer a Tailândia. Toda a gente veio de lá encantada com a simpatia do povo, o sabor das comidas, a beleza das paisagens e a transparência das águas... nunca ninguém disse mal daquilo, só bem, e muito bem.
Não fiquei desiludido. Aquela zona da Tailândia é de facto linda e, tal como toda a gente a descreveu, exuberante.

Fizemos então a nossa viagem de 1 hora, no convés do barco, sob um sol abrasador, juntamente com mais uns quantos turistões. Boquiabertos, vimos as ilhas que rodeiam a Tailândia, vimos as águas transparentes, vimos as tartarugas e peixões que acompanhavam o barco. Vimos o verde luxuriante da vegetação das ilhas. Incrível aquele verde.



Chegamos à ilha onde ficaríamos quatro dias e onde passaríamos a Ceia de Natal. Paramos no “centro” onde a grande maioria dos nossos companheiros de viagem desembarcou. Continuámos viagem e subimos para o norte e passados 10 minutos saímos descalços naquela areia que cegava de tão branca que era. Pelo mapa que vos mostro, o nosso hotel era um dos da ponta lá em cima.
O resort era simples como pudemos comparar depois com os hotéis nossos vizinhos, mas chegava e sobrava. Fomos recebidos pelo(a) anfitriã(o) do Resort, ainda em reconstrução tal como muitos outros que foram vítimas da onda devastadora. Na verdade as Phi Phi, foram completamente devastadas de um lado ao outro pelas águas... sobrou nada!

Não escrevi “pelo(a) anfitriã(o)” por erro. Na verdade tivemos oportunidade de verificar que a Tailândia é um país onde abundam, digamos, os já afamados “lady boys”. Face à condescendência do Budismo a homossexualidade é comum e geralmente bem aceite.

Então, dizia, fomos recebidos por um desses espécimenes. Um homem do tamanho de um armário, com pelos no queixo, pele coberta de base rasca tentando disfarçar a masculinidade do rosto, uma voz esganiçada e vestido primorosamente de tailandesa... saia, soutien, tudo. Era espantoso ver aquela figura... não podia ser verdade!

Como chegamos ainda de manhã, levaram-nos a tomar qualquer coisa. Um pequeno almoço de filme... frutas e sumos naturais, empregadas (meninas mesmo) vestidas de “hula hula” sempre com um sorriso nos lábios e de mãos postas agradeciam todo e qualquer pedido que fizéssemos.

Estávamos a passar as férias de Natal com 35 graus, numa praia que tinha 4 banhistas e água azul turquesa onde podíamos ver os peixes a nadar. Estranho, muito estranho, afinal de contas devia estar a chover e a fazer um frio de bater o dente!

Os dias passaram rápido e numa ilha deserta pouca coisa havia para fazer para além de tomar banhos de mar e sol. Contudo, um dia experimentamos fazer snorkeling. Estivemos a nadar de papo para baixo a ver os peixinhos e tal.. muito bonito, muito giro. Resultado, a minha mulher apanhou um escaldão nas costas e no rabo que juntamente com o sol abrasador da viagem de barco provocou nela um estado febril... não mais saiu da sombra.

Tínhamos as nossas refeições quase sempre nos restaurantes e tascas do resort, mas uma vez fomos ao “centro” jantar. Bem, que diferença. Como podem ver no mapa, o número de hotéis naquela zona é substancialmente maior e o dito “centro” é composto de centenas de barracões com restaurantes e lojas com produtos manufacturados que se encontram nas lojas “natura” do Norte Shopping.
Apanhamos um “long tail”, um barco movido a motor de carro re-utilizado depois da morte do veículo de 4 rodas, conduzido por um rapaz descalço, cor de chocolate, sorriso aberto e com uma camisola do Barcelona.

Só turistas australianos por todo o lado a beber cerveja por canecas de um litro, barulhentos e chanata no pé... Que sorte tivemos em ter ido para a zona mais calma.

Chegou o dia 24 de Dezembro. “Obrigados” a participar na Ceia de Natal organizada por 3 hotéis, incluindo o nosso, fomos pelas 8 da noite sentarmo-nos com mais 70 pessoas numa das dezenas de mesas postas na praia iluminada com tochas e velas. Vestimos-nos, como não podia deixar de ser, a rigor... mas um rigor adaptado às circunstâncias especiais, claro!

Ao invés do tradicional bacalhau, o jantar foi composto de mariscos de toda a espécie e mais alguma, caril de toda a espécie e mais alguma, arrozes de toda a espécie e mais alguma.
Jantamos, pois, à luz das velas e do luar, na praia, acompanhados por um vinho branco gelado e com o mar sob os nossos pés descalços. Tivemos direito a exibições de danças tradicionais e ainda a uma simulação de Muai Tai, o box Tailandês onde vale murro, pontapé, cotovelada e joelhada... é mais ou menos, na versão portuguesa, como os pauliteiros de Miranda.

Que Natal diferente!

Bom, no dia seguinte foi dia de partida. Logo pelas 10 da matina aguardava-nos o barco para nos levar de volta a Phuket onde apanharíamos o avião para Bangkok e daí para Macau.

Novatos nestas andanças de viagens com horários apertados e escalas programadas por nós, íamos ficando em Bangkok a passar mais um dia... O voo de Phuket para Bangkok atrasou. Chegamos com 45 minutos para fazer o check in para Macau... Mas e as malas... as malas tinham sido despachadas para o porão do avião. Conclusão, a minha mulher a correr para o balcão do check in para prevenir e assegurar o nosso embarque e eu em stress pelo aparecer tardio das malas nos tapetes respectivos... E lá apareceram... Peguei nelas e a correr feito louco cheguei a arfar ao balcão onde me esperava a minha mulher com ar desesperado...

Ainda tínhamos que passar a imigração e faltavam 15 minutos para o avião levantar voo. Centenas de pessoas distribuídas por 10 filas aguardavam a sua vez para serem atendidas. Nunca mais chegaríamos a tempo! De repente vejo a minha mulher a correr esbaforida para o canal diplomático, eu de arrasto, fui também. Num discurso desesperado, convencemos o polícia a deixar-nos passar... depois foi correr... correr como nunca corri na minha vida.

Tinha os pulmões a latejar... maldito tabaco, pensei!

Para quem não conhece o aeroporto de Bangkok posso dizer que é mais coisa menos coisa tipo Heathrow, em Londres. Bom, a nossa porta de embarque era a última de todo o terminal... que correria, caramba, que correria... Acabávamos a viagem em stress quando deveria ter sido o contrário, mas foi muito bom e ficou prometido, um dia havemos de lá voltar!


Ps: Passado um mês deixámos de fumar e não voltamos a despachar malas no porão.

3 comments:

  1. Sem Natal em Portugal, como os imigras? Nem o dito bacalhau??? Mas que HORROR ter de passar o Natal na Tailandia.... que pesadelo.... que tragédia grega.... que... e ainda bem que correstes "muito" e foi pena não teres deitado os bofes de fora. Deixavas o vicio em milésimos de segundos... Mas gostei da escrita!! Estas a melhorar cada ano que passa Trintão!! Ei...Ei... e fotos??? é para uso da casa?

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  2. que horror ter de passar o Natal fora da terrinha como todo o imigra!!! e o bacalhau.... que pena!!! que pesadelo deve ter sido passá-lo na Tailândia, ... esta vida é mesmo cruel!! Deixa lá... tens um lugar especial no céu por tanta desgraça.... inclui os bofes de fora por causa do tabaco! Bem feito, Ih, Ih, Ih,...

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