Thursday, April 16, 2009

Partida, largada, corrida!

Tal como prometido, aqui vai o texto que escrevi aquando da minha chegada a Macau. A primeira tentativa do tal diário... Já está desactualizado mas ainda assim merece a publicação.

Dia do embarque – 4 de Setembro de 2007
Dormi na minha antiga casa de Lisboa, uma vez que o voo para Helsínquia (onde fiz escala) partia do aeroporto da Portela.
Bem, dormir não é bem o termo, uma vez que, para além de não ter lençóis, cobertores nem sequer almofadas e estar vestido, o stress da viagem apenas permitiu uns brevíssimos fechar de olhos.
Acordo pelas 6 da manhã…

6h30
Às seis e meia da manhã a minha mana (quatro “m’s” seguidos) já estava pontualmente à porta do gigantesco e largo prédio onde vivi durante o último ano e meio em Lisboa.

7h00
Chegado ao aeroporto foi tudo, felizmente, muito rápido.

7h50
As despedidas das famílias já saudosas não demoram mais de 10 minutos o que impediu que, pelos menos naquele momento, qualquer lágrima fosse derramada.

8h00
Andôr, penso eu para os meus botões sem, contudo, conseguir evitar engolir em seco.

8h30
Up Up, Away!!!!

12h30 Portuguesas e 14h30 Finlandesas
4,5 horas e meia depois e após um almoço (sim almoço!!!) de avião servido pelas nove da manhã portuguesas, aterramos na capital da Finlândia. E ainda dizem mal dos nossos aeroportos… aquilo parecia a estação de autocarros de Sete Rios. Limpinha, muito limpinha é certo, mas pequeninha, muito pequeninha…

13h30 Portuguesas e 16h30 Finlandesas
Uma hora e 50 minutos depois de ter aterrado, embarcámos novamente. Desta feita para Hong Kong. A Grande Maçã do Oriente.
Entramos no avião e passado uma hora serviram-nos o Jantar (jantar às duas e meia da tarde portuguesas!!!). Desligaram as luzes e meteram um filme nos 539 ecrãs existentes no avião (o quarteto fantástico e o surfista prateado).
Passadas duas horas e meia, meteram outro filme…(Big Mama 2….)
Passadas mais duas horas e meia e meteram outro filme…(Family Guy…)
Passada uma hora e meia serviram o pequeno almoço composto por feijão e mais uns comestíveis de qualidade duvidosa.

24h00 Portuguesas e 7h00 Hong Konguesas
Chegámos a Hong Kong.
Toca a apanhar o ferry para Macau…Mas não. Nada disso Toninho, vais esperar sentadinho três horinhas pelo ferry que é para veres o que é bom para a tosse. E esperamos! Que estafeira!

03h00 Portuguesas e 10h00 Hong Konguesas
Entrámos no Ferry. Dormi!!!

04h00 Portuguesas e 11h00 Macaenses
Chegámos finalmente a Macau 21 horas depois de termos partido de Portugal. Senti-me numa constante plataforma flutuante por mais terra firme que existisse debaixo dos meus pés. Que pedrada a minha. Durou três dias a sensação de moca!
Esperavam-nos à saída do Ferry e levaram-nos para o Hotel, mas não foi logo que pudemos tomar um banho e dormir… os quartos ainda não estavam prontos e por isso tínhamos que esperar mais uma horinha… Fomos almoçar.
A primeira sensação que tive, confesso, foi má. Péssima. Nojenta. Que pardieiro de cidade pensei eu em partilha com os meus botões.
Calor infernal. Cheiro insuportável. Barulho ensurdecedor. Ares condicionados que invadem as ruas ora com os bafos quentes dos aparelhos selvaticamente pendurados em todas as paredes exteriores ora com os ventos gelados de 10 Cº que sopram furiosamente de dentro de todo e qualquer buraco.
Trânsito caótico. E ainda por cima pela esquerda, à inglesa.
Ao lado do mais moderno casino existe o mais velho casebre (mas com ar condicionado, hã!).

14h00 macaenses e 7h00 portuguesas.
Almoçámos uns bolinhos de bacalhau que mais eram uns pasteis de óleo com fiapos de bacalhau.
Fomos para o Hotel Sintra que a minha entidade patronal gentilmente pôs à disposição da sua nova aquisição profissional…Dormi, por fim!

18h00 Macaenses e 11h00 Portuguesas
Acordámos e fomos visitar as instalações onde, durante os próximos tempos, irei trabalhar.
Foi-me apresentada quase toda a gente.
Perto de 50 pessoas. Portugueses, Macaenses, Cabo Verdianos, Chineses e Lisboetas.
A sensação da cidade foi bem melhor, desta feita. Estava mais fresquinho. Havia menos trânsito, menos gente na rua e não era hora do almoço e por isso não cheirava a comida e, acima de tudo, não estava tão cansado!!!

20h00 Macaenses e 13h00 Portuguesas
Os amigos, levaram-nos a jantar a um tailandês que, em conjunto com o feijão do pequeno almoço, provocou em mim algo que até hoje nunca esquecerei.

Dia 6 de Setembro
Demorei dois dias a perceber que, pela primeira vez na vida, teria que tomar o tão afamado “Imodium” (fármaco essencial para quem viaja para Africa, Ásia ou qualquer outro continente ou país com costumes alimentares não coincidentes com os nossos sensíveis sistemas digestivos).
Era evidente a crescente necessidade de visitar aposentos reais e o meu ciclo digestivo era quasi quasi permanente…
Quatro dias de visitas frequentes aos nobres aposentos e o resultado ficou demonstrado com a perda de dois quilos no meu peso pluma e o prémio de uma desconfortável sensação que me privo de descrever aqui para não ferir sensibilidades mais susceptíveis.
Os dias foram passando.

Dia 7 de Setembro
A minha mulher arranjou Emprego em tempo record, segundo as estatísticas locais dos últimos tempos. Foi proposto à minha menina ocupar o cargo de designer numa conceituada empresa de arquitectura amaricana!!!
Bem remunerada (novamente graças a Deus), com bom horário laboral e com óptimas condições para o seu desenvolvimento profissional e pessoal.

Dias 8 a 15 de Setembro
Durante este período as minhas idas ao escritório eram interrompidas por visitas a apartamentos para arrendar.
Contudo, aproveitei para me ambientar ao funcionamento da sociedade, para tratar da papelada necessária à imigração e inscrição na Associação dos Advogados e iniciar a minha intervenção, ainda que reduzida, num projecto de financiamento de muitas patacas.
Passada uma semana de ter chegado fui, juntamente com o departamento comercial onde me incluo, a três reuniões em Hong Kong com escritórios de advogados nossos parceiros.
Sem palavras. Senti-me um verdadeiro parolo a ir à cidade... É como sair da margem sul em direcção à Capital. Impossível de disfarçar a excitação juveniel que senti. Caramba estou em HONG KONG e em trabalho!
Não consigo por enquanto descrever a cidade. Posso, contudo, dizer que percorri muita da “baixa” da cidade sem pôr um único pé no chão. Aquilo deve ser tudo a dobrar… Autocarros típicos ingleses de dois andares, eléctricos de dois andares e ruas de dois andares (passadiços por cima dos passeios normais com entradas e saídas para quase todos os enormes prédios, escadas rolantes de uns passadiços para outros… é com se houvesse duas ruas, uma por cima de outra.

Quanto às casas para arrendar visitámos mais de 20 apartamentos. Alguns bons mas caros (com a abertura do Venetian – maior casino do Mundo – a especulação imobiliária foi estrondosa. Apartamentos T3 que em Agosto custavam 6500 patacas, pediam agora por mês 8500 patacas).
Chegámos a ver uns “condos” no centro de Macau… que desgraça. Vimos um que tinha nas paredes do quarto de banho pastilha doirada e cujo lavatório, por proposta da burra da menina da imobiliária, serviria também de cozinha….de rir!!!
Enfim, muitos dos apês que vimos eram maus de mais. Ok, teríamos que abrir os cordões à bolsa mais do que queríamos.
Acabámos por encontrar no dia 15 (último dia da nossa estadia no Sintra), já fartinhos de procurar, um T3, num 27º andar, junto ao porto interior. Uma área exclusivamente chinesa e das mais antigas de Macau. No nosso prédio somos os únicos não chineses a morar, facto que tem sido a alegria dos porteiros e vizinhos que mui contentes ficaram com a nova vizinhança.
A sala e o quarto têm uma vista extraordinária sobre a China e de onde se pode ver o pôr do sol.
Ficámos contentes ao reparar, quando visitámos o apartamento pela primeira vez, que a cozinha era dotada de forno… mais tarde viemos a perceber que o aparelho que se encontra debaixo da placa trata-se não de um forno mas de um esterilizador de pratos!!!!!!!!! Diz que é uma espécie de maquina de lavar louça… pelo menos é o que se diz!!! Eu por mim não sei, mas nem se quer cheguei a ligar aquela porcaria à tomada.

Dias 15 a 26 de Setembro
Com o fim da nossa estadia no Sintra (10 dias), mudámo-nos para casa dos nossos amigos que nos disponibilizaram um tecto e uma malguinha de sopa!!!
Durante este período a minha mulher, ainda à espera de começar a trabalhar, ocupava o seu tempo na procura de tudo o que uma casa precisa… e precisa de tanta coisa!!!!
Eu, já mais inserido na estrutura profissional da empresa, começava a dar os meus segundos passos no trabalho.
Os móveis e demais objetos caseiros foram sendo encomendados para serem entregues no dia X à x hora.


Dia 26 mudámo-nos de vez.
Mudámos a fechadura, montámos os móveis ikea que chegaram de Hong Kong, limpámos todo o apartamento e, pela primeira vez desde o dia da nossa chegada, senti-me finalmente em casa.

Dia 30 de Setembro
Vieram pôr Internet cá a casa.

Dia 2 de Outubro

Emprestaram-nos uma televisão.

Dia 3 de Outubro de 2007
A minha mulher começa a trabalhar e a vida entrará, agora, na rotina do dia-a-dia.



Actualização a 16 de Abril de 2009
O Maior casino do Mundo, que abriu pouco antes de termos chegado, está agora à beira da falência.
A cidade continua repleta de maus cheiros, ares condicionados por todo o lado e um trânsito caótico... mas já nos habituámos.
A minha mulher está desempregada desde 7 de Abril de 2009, exactamente um ano e sete meses depois de ter sido contratada.
No meu escritório ainda há Portugueses, Macaenses, Cabo Verdianos, Chineses e Lisboetas e também alguns Filipinos!
O contrato de arrendamento do "nosso" apartamento está a 5 meses de terminar.
O esterilizador (o suposto forno) serve hoje para guardar batatas e cebolas.
Não mais voltei a tomar Imodium.

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