Monday, July 20, 2009

O Império Khmer

Ao escrever o título deste relato lembrei-me das aventuras de Tin Tin… ele merecia ter ido ao Cambodja.
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Numa das melhores viagens que fiz até hoje, os 5 dias que passamos no Cambodja foram extraordinários. Um país místico, história trágica, pobre e a lamber feridas do passado, o Reino do Cambodja é um dos destinos obrigatórios do Sudoeste Asiático.
Em Julho de 2007, depois de uma jantarada acompanhada de um bom vinho em Lisboa, eu e um amigo vasculhávamos o Google Earth em busca dos locais que poderia visitar quando viesse para Macau. Grande entusiasta do Oriente, este meu amigalhaço viveu em Macau uns anos durante uma comissão do Pai. Foi ele que me tirou qualquer réstia de dúvida que pudesse existir relativamente à minha vinda para cá! Foi, então, nessa noite que a vontade de conhecer o Cambodja apareceu.
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Estávamos no início do ano de 2009 e queríamos aproveitar o ano novo chinês, ano do boi, festejado de 24 a 28 de Janeiro (sábado a quarta) para fazer qualquer coisa e desta feita acompanhados por um casal amigo nosso. A hipótese seria Laos e Cambodja. Mas para “matar” esses dois países eram necessários mais dias, dias que não dispúnhamos. Assim, decidimo-nos só pelo Cambodja.
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A viagem foi planeada da seguinte forma. Voávamos de Macau até Bangkok e daí até Phnom Penh onde ficaríamos apenas uma noite. Da capital do Reino subiríamos de barco até Siem Reap, numa viagem que duraria 8 horas onde esperávamos romanticamente por aventuras e bons momentos. Aí ficávamos 3 noites e na quarta-feira continuaríamos a subir, por estrada, até à fronteira com a Tailândia e daí iríamos de táxi até ao aeroporto onde pelas seis da tarde embarcaríamos de regresso a Macau.
Saímos, pois, sábado de manhã (sair sexta não nos trazia qualquer vantagem pois teríamos de ficar a dormir em Bangkok) e cinco horas depois estávamos já a apanhar o voo para Phnom Penh. Sabia que íamos para um país pobre onde as crianças corriam atrás dos turistas ora pedindo dinheiro ora tentando vender fotocópias de guias da Lonley Planet, por isso íamos carregados de rebuçados e levávamos de casa lápis de cores, de cera e o que mais lá havia e que desse para distribuir.
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Chegamos a meio da tarde. Deu tempo para pousarmos as malas, darmos um passeio nas redondezas e antes do jantar, tomar uma merecida banhoca. Jantamos no FCC (Foreign Correspondents Club), local de reunião de repórteres e jornalistas internacionais no decurso da guerra civil e revolução dos Khmer Vermelhos.
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A primeira impressão que tivemos de Phnom Penh foi a de que estávamos num país muito, muito pobre. Vimos famílias a dormir na rua. As construções e edifícios muito frágeis, as estradas e passeios degradados, muita sujeira e lixo no chão. As pessoas descalças e com um trapo no corpo… até os monumentos, templos e espaços mais turísticos demonstravam a pobreza da capital de um país devastado pela guerra, fome e miséria.
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No outro lado da rua do nosso hotel funcionava uma discoteca manhosa… só lá para as 3 conseguimos adormecer.
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No dia seguinte pela manhã, decidimos alterar o plano de viagem e, em vez de subirmos de barco até Siem Reap numa viagem interminável sob um sol abrasador deitados no telhado de um barco cheio de gente, em 4 horas apenas, numa carrinha de 9 lugares, chegaríamos a Siem Reap, terra de Angkor Wat!


A viagem estava marcada para as duas da tarde e até lá visitamos o palácio real, o museu da capital, o mercado central e percorremos as ruas da cidade absorvendo a sua vida. Pude reparar que os cambojanos não são tão simpáticos e amáveis como os tailandeses. De facto, a guerra e as tristezas recentes terão marcado as pessoas e isso podia ver-se nos seus rostos. Às duas da tarde lá partimos numa Toyota Hiace, com mais sete marmelos numa viagem que pouco teve de interessante.

Chegamos ao fim da tarde a Siem Reap e ficamos instalados no FCC do sítio que para além de restaurante e bar, também tinha serviço hoteleiro. Mais turística e talvez por isso mais cuidada, mais limpa e também muito menos pobre, a cidade é dividida por um rio cujas margens abarcam hotéis, restaurantes, lojas e lojinhas. Na verdade iríamos estar em Siem Reap apenas 2 dias, uma vez que sairíamos quarta-feira logo de manhã para a Tailândia. O tempo era pouco mas nesse dia nada fizemos… O passeio dos tristes e cansados e depois cama!

No dia seguinte acordamos bem cedo com o objectivo de passarmos todas as horas até ao por do sol a visitar os templos perdidos de Angkor Wat. Alugamos um Tuk Tuk e o respectivo motorista que, por uma pequena quantia, ficou ao nosso dispor durante todo o dia. Siem Reap tem centenas de templos. Uns enormes, outros mais pequenos… é impossível ver tudo num só dia!
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Tinhamos dois tipos de “passes” à escolha, um de 3 dias e outro de 1 dia… compramos este com intenções de ver tudo o que pudéssemos. É-me difícil descrever os templos que visitámos, mas na verdade aquilo é extraordinário. Enormes edifícios de pedra lembrando civilizações antigas da America Latina, meio piramidais e labirínticos, em ruínas e carcomidos pela natureza. Completamente perdidos no meio de floresta intensa, alguns destes templos funcionavam como fortalezas, protegidos por altas muralhas e fossos de água por todos os lados… Impressionante!
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Deixo-vos com as fotos que, melhor do que eu, descrevem o que vimos…. Foi um dia em cheio.


Imaginamos como seria a vida nos anos em que milhares de pessoas habitavam aqueles templos… Como tinham água? Teriam esgotos? Porque e como ficaram vazios? Estas e mil outras perguntas vieram-nos à cabeça!
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Chegámos, como devem imaginar, estourados ao Hotel… Reservamos o dia seguinte para descansar um pouco usufruindo da piscina, conhecer a cidade e fazer umas compras. Muito bom, tranquilo e consegui distribuir grande parte dos rebuçados que trouxemos… e foi espectacular ver a alegria da “canalha” que corria atrás de mim com a mão esticada aos berros e gargalhadas. Valeu a pena o desconforto dos muitos rebuçados nos bolsos dos meus calções!
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Preparamo-nos para o dia seguinte. Ia ser verdadeiramente uma aventura. Iríamos alugar um táxi para nos levar em 4 horas até à fronteira com a Tailândia e depois de táxi, novamente, iríamos até ao aeroporto. Não sabia o que nos esperava e as indicações do Lonley Planet que levámos não eram as melhores e alertavam para alguns perigos.

Assim, logo pela manhã de quarta-feira tínhamos o nosso amigo à espera e a primeira impressão não podia ser pior. No Cambodja conduz-se como em Portugal, pela direita, mas íamos fazer a viagem num carro com o volante à direita… bonito... a juntar à festa o Zé Manel que nos conduzia não falava ponta de inglês.

Consta que a estrada que vai de Siem Reap à Tailândia, que é uma bela merda, diga-se, está no estado que está – ou seja não está – pelo facto de companhias aéreas corromperem o poder local de forma a evitar ou atrasar as obras intermináveis na dita estrada e assim continuaram a ter o monopólio do transporte para o país vizinho.

De facto, só mesmo os tolinhos dos turistas é que passam alegremente 4 ou 5 horas dentro de um carro bafiento para fazer uma viagem que, numa estrada transmontana qualquer, daquelas feitas à pá e pica, demorava uma hora a fazer… Mas que as estrada estava em obras, lá isso estava.
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Vejam aqui um pedacinho da viagem que tive oportunidade de filmar…
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Peço desculpa pela qualidade cinematográfica mas as condições não eram de facto as melhores.

Chegámos vivos à fronteira. Do lado de lá, encontrávamos um país mais rico, mais evoluído, mais moderno e com boas estradas. A viagem foi rápida e num ápice chegámos ao aeroporto.

Esperamos um pouco e lá embarcamos para Macau. O voo foi bom. Chegamos a casa, como sempre cansados. Metemos um pão à boca e deitamo-nos, mais uma vez, com a barriga cheia das recentes aventuras e um sorriso na cara.

3 comments:

  1. adorei... já sei a quem pedir ajuda e informações quando for a minha vez de visitar o Camboja.... é claro que não é a ti o TOVI... é a Miá.... ou pensas que posso confiar em mais alguém se não nela??? Mas que tens jeitinho para relatar ... ai isso tens. mas não te enchas como um pavão pois só "serves" para isto... e já estamos cheios de sorte.... os tais que visitam o teu blog dos 5 continentes!! Bjs . Adorovos!!

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  2. Referência se faça que na viagem de carrinha até siem reap (a tal pouco interessante) tiveste oportunidade de aprender uma fantástica nova gama de nomes em Português (tais como Ciríaco, Altino e outros) durante o curso-concurso intensivo de 4 horas.

    Não esquecer também a piscina e os fantásticos pequenos almoços do FCC Siem Reap!

    Abraço pang iao!
    Au Lek Va

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  3. Zéze.... Companheiro.... Onde vamos neste Ano Novo chinês?

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