Monday, May 11, 2009

Shanghai - o relato

Saí a correr do trabalho às cinco para apanhar o avião das seis e meia rumo a Shanghai – ou Xangai em Português. E ainda queria ter tempo para descansar um pouco no lounge do aeroporto cuja entrada é gratuita para os portadores do cartão do BNU.

É sempre um dos grandes momentos das viagens essa meia hora que se passa no dito lounge. Tem-se direito a comer e beber o que eles lá têm, enquanto se espera pelo nosso voo confortavelmente sentado nos sofás disponibilizados.

Servem umas chinesices, massas e arrozes fritos, uns pastéis de massa folhada e umas empadas de carne, umas mini-pizzas, uns docinhos e tal. Quanto a bebidas, há de tudo. Vinho, cerveja, chá, café, bebidas brancas e todo e qualquer refrigerante.

Enfim, como na maior parte das vezes viajamos em companhias low cost, onde não servem qualquer refeição a não ser que se pague, aproveitamos sempre para aconchegar o estômago antes da viagem.

Queríamos aproveitar o fim-de-semana prologado e por isso comprámos um pacote da Air Macau que incluía viagem e dormidas de 4 noites a sair na Quinta e regressar na Segunda.

Demoramos cerca de 3 horas a chegar ao nosso destino. Como se esperava, Shanghai tem um aeroporto gigante que acolhe milhares de viajantes diariamente. A ligação à cidade é feita por comboio que, a uma velocidade de 300 kms/h, chega à cidade em 8 minutos (de carro demoraríamos mais de hora e meia).

A estação do Maglev (o pendular lá do sítio) tem ligação directa com a rede de metro da cidade. Em menos de 15 minutos chegamos ao nosso destino final.

Escolhemos, dentre os disponíveis, um hotel central, quer no nome quer na localização – Shanghai Central Hotel. Tínhamos optado por não incluir os pequenos-almoços na nossa estadia, o que diminuiu bastante o valor do pacote, mas no check in do hotel lá nos deram as fichas da refeição matinal que nós, de sorriso silencioso nos lábios, aceitamos de bom grado.

Eram cerca das onze da noite, ainda perguntamos se haveria algum sítio aberto àquela hora onde pudéssemos comer qualquer coisa, mas limitaram as alternativas ao McDonalds e KFC… Jantamos no hotel.

Acordámos cedo e depois do óptimo pequeno-almoço – oferta da casa – saímos para a cidade.

Como toda a gente, deixamo-nos levar pela tentação de comparar a cidade com outras que conhecemos. Com Macau, não havia qualquer comparação. De Hong Kong, a modernidade dos edifícios, a largura das avenidas e os arranha-céus assemelhavam-se.

A influência francesa e britânica está visível a todos os níveis. Desde a arquitectura, aos restaurantes, à cultura e civismo das pessoas.

Era dia 1 de Maio. Dia do trabalhador. Feriado nacional. Milhares de pessoas nas ruas a passear. Gentes das cidades e zonas dos arredores invadiram a cidade aproveitando o feriado e o bom tempo que o dia trouxe.

Muitos passavam por nós e simpaticamente punham conversa – Where are you from? How many of you came? How many days will you stay? Happy Labor’s Day! - Alguns chegavam a convidar-nos para irmos com eles ao festival do Chá, que se realizava naquele fim-de-semana.
Se parávamos no passeio a olhar para o mapa ou para o guia, solicitamente perguntava-nos se precisávamos de ajuda ou então levavam-nos aonde queríamos ir. Que acolhimento e simpatia contagiantes.

Lembrei-me agora de um episódio que se passou comigo há uns anos, no Porto. Fui buscar a minha irmã que saía do seu trabalho no Rivoli pela meia-noite. Como habitual, o centro da cidade estava deserto e escuro e na mesma paragem de autocarro onde a minha irmã me esperava encontrava-se um rapaz, de olhos em bico, de mochila às costas, que acabado de chegar à cidade queria ir para a pousada da juventude ali da pasteleira. Por instinto, e de dentro do carro, perguntei ao rapaz para onde queria ir. Ao saber da resposta ofereci-me para o levar lá… hesitante, lá aceitou. Deixei-o à porta da pousada e em jeito de agradecimento ofereceu-me, a mim e à minha irmã, duas moedas Sul Coreanas. Depois de ter estado em Shanghai, acho que senti o mesmo que aquele rapaz sentiu no nosso Porto... "que malta simpática", deverá ter pensado!

Bem. Nesse dia andamos, como se diz no Porto, comó car …, enfim, andamos muito, pronto! Não corremos a cidade toda, isso era impossível. Shanghai é a maior cidade da China. Passeamos na “baixa”, corremos a marginal, bisbilhotamos a “Old Town”, apreciámos o templo.

Pude reparar, com muito espanto, que algumas crianças ("normalmente" uma por casal) com idades entre os 2 e 4 anos tinham as calças rotas no rabo... Coitadinhos, pensei eu, devem estar cheios de frio no rabiosque com as calças todas rotas... Depois de ter visto 2 ou 3 miúdos de rabo quasi ao léu concluí que não podia tratar-se de calças rotas... era cá uma coincidência. Depois lembrei-me... os putos não têm fraldas... nem cuecas... é que, na verdade, em hora de aperto a coisa fica muito mais fácil.


À noite, depois de um reconfortante banho no hotel, fomos jantar a um restaurante tipicamente francês e só os olhos dos empregados nos lembrava que não estávamos na Europa.

Do que mais me atraiu foi encontrar na China, uma cidade moderna como Nova York, antiga e clássica como Londres ou Paris e com todo o misticismo oriental e chinês. Onde ao lado do mais moderno arranha-céus, encontramos um quarteirão francês e um pagode chinês. É espectacular.

Então, durante sexta, sábado e domingo visitamos o que pudemos da cidade. Entramos e calcorreamos o Museu de Shanghai. Passeamos nas ruas da Concessão Francesa, visitamos os mercados das sedas e caxemiras e ainda o mercado das antiguidades.
Na noite de sábado tivemos uma desilusão. Queríamos muito ir a um restaurante-bar – Face – que existe noutras cidades da Ásia tal como Bangkok, Pequim, Jakarta. Tínhamos experimentado o da Tailândia e como gostámos muito decidimos ir jantar ao de Shanghai.

O restaurante ficava longe do centro e do nosso hotel. E é preciso um mapa pormenorizado para nos levar lá. Andamos, mais uma vez muito. Andamos às voltas. Andamos doidos e molhados pela chuva miudinha que nos caía em cima. Quando decidimos perguntar onde seria o tal “Face” disseram-nos… “Its closed”… Ora porra...às dez da noite "its closed"!

Acabamos por ir comer, em alternativa, a um sítio muito bom – M on the Bund. Fica no 8º andar de um prédio com vista para o rio. Muita influência francesa, também. Soubemos que há um em Hong Kong – M on the Fringe – … havemos de lá ir! Bom ambiente, excelente serviço, qualidade superior e preço acessível. Nota +.

Aproveitemos o domingo para as compras e passeamos pelos ditos mercados. Visitamos ainda uma das Catedrais de Shanghai. Uma típica Igreja inglesa mas cujo interior parece umas das Sés Portuguesas, e estava apetrechada de diversos ecrãs por onde os fiéis seguiam as leituras e as músicas cantadas por um coro composto por cerca de 30 pessoas. As músicas, muitas delas, eram iguais às que se ouvem por aqui em Macau e até em Portugal… Só que o coro não tinha comparação.

Segunda-feira acordámos pelas seis. O nosso voo partia às nove e meia e chegaríamos a Macau por volta do meio-dia e meia (com a devida autorização da entidade patronal, dispensei-me nessa manhã).

Ao invés de apanhar o metro para a estação do comboio, decidimos ir de táxi… A cidade está toda em construção à custa da recepção em 2010 da Expo. Alargam a rede de metro, refazem viadutos, constroem avenidas, enfim, uma barafunda a juntar ao trânsito que por si só já não é fácil. Estivemos quase para perder o comboio que em hora nos faria chagar ao chek in.

O aeroporto estava em estado de sítio à custa da gripe suína ou da gripe mexicana ou da gripe A ou da gripe H1N1. (tantos nomes para a mesma coisa!).
Os oficiais da imigração e os funcionários das companhias, protegidos por máscaras e luvas, lidavam com os passageiros como se fossem leprosos. Deixámos o nosso número de telefone (coisa que nunca nos é pedido) e passamos por aparelhos de medição de temperatura.

A chegada a Macau foi a mesma coisa. Toda a gente mascarada e enluvada. Tiraram-nos a febre e preenchemos uma declaração de saúde onde deveríamos acusar, se fosse o caso, a existência de uns quantos sintomas…

Cheguei a casa, tomei um banho. Fiz a barba e às duas e meia da tarde estava a trabalhar com vontade de ir conhecer a Expo 2010.


Ps: Descobri, ao escrever este artigo, que Shanghai é geminada com uma cidade portuguesa desde 1995… É o Porto, carago.

3 comments:

  1. Não perderei esta e outras cidades do Norte da China por .... NADA.... se me for possível.... no próximo ano. Adoro aquele "continente"..... desculpem-me os que acham a China um pavor.

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  2. Dei boas gargalhadas... das minhas (para quem me conhece!!!) com o comentário, sobre o dito restaurante que estava fechado às 10 da noite.... que porra.... é um comentário bastante ameno para o que eu diria se me acontecesse o mesmo.... mas não podemos esquecer que estamos num BLOG aberto ao publico, Ah,ah,Ah,.....!!!

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